BLACKOUT NO AMAPÁ, E A FALTA DE INFRAESTRUTURA NO ESTADO MAIS ESQUECIDO DO BRASIL

Thomaz Tavares
6 min readNov 7, 2020
Imagem: crisvector

Amapá (que em tupi quer dizer "Lugar a da chuva"), que fica no norte do país, no meio da floresta Amazônica, Estado que faz fronteira com a Guiana Francesa, e por onde passa a linha imaginária do Equador, está, neste momento que escrevo esse texto, há quase 70h sem abastecimento de energia elétrica, e com isso, sem abastecimento dos principais serviços: caixas eletrônicos, hospitais, mercados, comércios, farmácias, água potável, tudo em falta. Motivo: um incêndio numa subestação de distribuição de energia elétrica, ocorrida dia 03/11, que é administrada por meio de concessão por uma empresa PRIVADA chamada ISOLUX.

A CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá), que é uma Empresa Pública, vem passando por um desmonte e sucateamento há anos. Várias gestões usaram a companhia como curral eleitoral, ou mesmo para angariar interesses escusos, e com isso, deixando a CEA com uma capacidade de operar muito frágil, atrasada tecnologicamente, e com um péssimo serviço oferecido para a população.

E mesmo toda sucateada, a CEA, junto com a Eletronorte (Empresa Estatal e que não opera no Amapá) estão oferecendo todo o suporte para tentar solucionar o mais rápido possível o restabelecimento do abastecimento de energia para todo o Estado.

A Histórica falta de Infraestrutura do Amapá, e as Privatizações furadas.

O Amapá, que é a 25ª economia do País e que representa 0,02% de tudo que é arrecadado no Brasil, e que não tem o histórico de ter uma boa fatia ali na divisão do PIB (Produto Interno Bruto), e que por causa disso apresenta os piores índices sobre questões como saneamento básico, mobilidade urbana, obras que interliguem os municípios, dentre outros serviços básicos.

Obviamente que o problema não é só na hora da divisão do orçamento da União e o quinhão do Amapá, também existe muita falta de vontade de política local para que encontrem soluções para problemas antigos, seja na capital, ou mesmo nos outros municípios do Estado.

O grupo empresarial e político que administra o Amapá, sempre atuou, ao meu ver, como agentes do atraso para o desenvolvimento da menor capital da Amazônia. Chega a ser inacreditável, por exemplo, faltar o abastecimento de água, sendo que somos banhados pelo maior rio do mundo em volume d'água. E isso acontece, porquê a CAESA (Cia de Água e Esgoto do Amapá), também vem sofrendo ataques desses grupos empresariais e políticos que enxergam a Empresa Pública como um empecilho para seus interesses, então, sucatear a empresa, e oferecer um péssimo serviço para a população, é a manobra perfeita para se ganhar a opinião popular para uma possível mudança de gestão, no caso, a Privatização.

A mesma coisa vem acontecendo com outros aparelhos públicos que estão sendo incluídos no plano de concessão do GEAP como o Hotel Macapá, que fora um empreendimento Estatal na década passada, e que hoje está servindo apenas a interesses empresariais, sendo que já foi apresentado diversos projetos de tornar o lugar um ponto de cultura, já que o prédio fica bem na frente cidade, com vista para o Rio Amazonas, o que renderia bastante retorno para os cofres públicos, geraria emprego e renda, e melhoraria o setor do turismo na cidade; temos também o Comandante Solón, que é um navio de grande porte que fazia a viagem Macapá/Belém pela hidrovia do Amazonas, e geralmente levava pessoas que procuravam por tratamento médico fora do Amapá (já que nossa infra de saúde também é falha), e não tinha condições de arcar com uma passagem aérea. Hoje em dia, o Navio está capengando, e logo será vendido.

Além de tantos outros aparelhos e serviços públicos que vem sendo sucateado ao longo dos anos, para dar passagem para privatizações e concessões, que como bem sabemos, servem apenas a interesses econômicos e nunca a serviço da população.

O Estado invisível, e o silêncio da mídia.

Com todo esse caos acontecendo no Amapá há quatro dias, além da falta de infraestrutura, logística, e gestão dos que administram o Estado, ainda nos vimos isolados dos noticiários da grande mídia. Que já não aparecemos nos jornais por quase nada — e quando ocorre, sempre é sobre alguma tragédia — , mas dessa vez, foram pouquíssimas as notas de rodapé, ou mesmo uma notícia com não mais de um minuto sobre o que estava acontecendo no norte do país.

Nada. As notícias mais atualizadas estavam vindo das redes sociais, das pessoas que possuíam algum sinal de internet, ou mesmo de Amapaenses que moram fora e que estavam desesperados pra saber notícias da família. E ontem, apenas ontem,depois de dois dias e com um monte de gente se mobilizando, a TAG #SOSAmapá chegou nos assuntos mais falados do twitter, e com isso, sensibilizando artistas e políticos Brasil a fora para a tragédia que estava acontecendo.

Segundo informações extraídas das redes sociais, a rádio CBN, única rádio em funcionamento no meio do apagão, não estava prestando seu serviço de informar e atualizar as pessoas sobre o que estava acontecendo, ou mesmo dando suporte para que pessoas de fora do Estado pudessem ter informações de seus familiares. O que é extremamente lamentável, já que esses veículos de informação são de concessão pública, e era o mínimo que eles poderiam fazer pela população.

A Segunda onda de COVID-19 e o Apagão

A capital Macapá já estava passando por um aumento dos casos de contaminação da COVID-19, e já estava somando no último boletim divulgado um total de 750 mortes, números que fizeram Prefeitura e Governo do Estado, suspenderem atos de campanha eleitoral, bares, e alguns estabelecimentos iriam voltar a ter limite de hora de funcionamento.

É importante tocarmos nesse assunto, porque a área da saúde é outra que vem sendo massacrada. Na capital, que tem mais de 500 mil habitantes, só existe um Hospital de Emergência, e um Hospital Clínico. Imagine, que exista apenas um hospital para atender um Estado com 16 munícipios, e ainda atender a demanda de algumas localidades do arquipélago do Marajó (que é muito mais próximo do que ir para Belém do Pará). É algo surreal de se pensar.

Nos meses em que a Pandemia da Covid-19 estava bastante alta em Macapá, um repórter de uma emissora nacional fez uma reportagem denunciando as condições precárias que se encontrava o único hospital do Estado enfrentando o alto contágio, as internações causadas pelo vírus e todas as outras demandas. Um problema que pra quem é de Macapá, sabe que não é de hoje.

O Amapá, assim como boa parte do País, é governado por famílias, que há pelo menos três gerações tomam conta da política do Estado.

Góes, Alcolumbre, Favacho, Auzier, Gurgel, Borges, estão ai entre as famílias mais poderosas do Estado. Estão na política, no comércio, no ramo imobiliário, no setor bancário, de empréstimos, no setor de serviços, de alimentos, no setor produtivo, de gasolina, de telecomunicações, de material de construção além de serem donos de hectares e hectares espalhados pelo Estado. Também possuem entradas no Judiciário e no MP. Não é difícil chegar em algumas localidades no Amapá e ouvir esses sobrenomes, e sempre serão associados a donos de terra, ou algum empreendimentos.

Existe um motivo para o Estado do Amapá ser tão atrasado, não é normal o que está acontecendo, não pode ser que o Estado que produza energia para o Brasil inteiro, que uma capital de uma federação seja esquecida a esse ponto. São mais de 730 mil pessoas abandonadas, unicamente por terem dado o azar de não ter nascido no eixo sul-sudeste. Esse projeto de tornar o Norte do Brasil em um polo de exploração para produzir energia para as regiões ditas produtivas do país não vai acontecer!!

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